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domingo, 15 de maio de 2011

POR QUE O PLANETA ESTÁ ESQUENTANDO


Os fatores são muitos, mas os gases estufa são o principal



Dez entre dez cientistas que estudam o clima não têm dúvidas: a Terra está cada vez mais quente desde a Revolução Industrial. Nos últimos setenta anos, o consumo crescente de energia proveniente de combustíveis fósseis, o desmatamento e o acúmulo de resíduos orgânicos e químicos fizeram disparar a emissão de alguns gases: dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e outros menos conhecidos, todos chamados de gases do tipo estufa por reter a radiação térmica e assim impedir que o calor da Terra atravesse a atmosfera e se disperse no espaço. Nesses setenta anos, a temperatura do planeta subiu em média 0,7 grau, como resultado da interferência das atividades humanas na troca energética entre a Terra e o Sol. Para entender o que está acontecendo e o que pode acontecer se o acordo mundial para baixar as emissões de gases do tipo estufa – o Protocolo de Kyoto, ratificado em fevereiro passado – não conseguir mudar o rumo dessa história, entrevistamos Carlos Nobre, engenheiro, doutor em meteorologia e pesquisador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e coordenador internacional do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), financiado pela NASA. 



O aquecimento global é o principal desafio ambiental do planeta? 



Sem dúvida, é o desafio do século. E é perceptível, o clima já se modificou. A primeira evidência é que a compilação dos dados da superfície do planeta mostra que a temperatura vem subindo desde, pelo menos, 1870, período da Revolução Industrial. 



Seriam os gases do tipo estufa os responsáveis por esse aquecimento? 



As temperaturas do planeta já sofreram oscilações de vários graus em nosso passado climático. A diferença é que essas oscilações eram percebidas em uma escala de milhares de anos, associadas aos períodos glaciais, quando a temperatura do planeta pode cair 6, 7 graus, em média. Também ocorrem variações de temperatura em períodos interglaciais, como esse que estamos vivendo, mas o que ocorre é que o aquecimento atual é muito mais rápido – isso é perceptível quando se acompanham as médias de temperatura principalmente nos últimos cinqüenta anos. O argumento mais poderoso para os que defendem a tese da relação entre os gases do tipo estufa e o aquecimento, no entanto, vem de nosso conhecimento científico com base nos chamados modelos climáticos globais, feitos nos computadores. Nesses modelos, podemos simular quais seriam os efeitos se colocássemos mais ou menos gases na atmosfera, e simular os fatores naturais. Por exemplo, há pequenas variações da quantidade de radiação solar em nosso planeta porque o fluxo da radiação solar não é constante. Por meio de cálculos astronômicos precisos, podemos determinar qual o valor dessas pequenas variações na energia solar e incluí-las em nossos modelos. Fazemos isso com todos os outros fatores que interferem no clima do planeta, como a poeira das erupções vulcânicas muito intensas, que esfriam a superfície da Terra. Assim, diminuímos a margem de erro dos modelos. 



E por que a poeira das erupções vulcânicas esfria o planeta e os gases estufa esquentam? 



No caso das erupções vulcânicas muito intensas, como a que ocorreu em 1991 em Pinatubo, nas Filipinas, uma quantidade imensa de poeira é jogada na estratosfera a 20, 25 quilômetros de altura. Essa poeira fica circulando durante dois a cinco anos e reflete a radiação solar, impedindo que ela chegue à superfície. Isso acontece porque as partículas de poeira são relativamente grandes e refletem a luz solar. Quando você vai à praia com sol forte e olha para a areia, aquilo irrita os seus olhos porque a radiação está sendo refletida; é como se estivesse olhando para o Sol, guardadas as proporções. A areia da praia reflete muito mais, por exemplo, do que a água do oceano. Os grãos da poeira vulcânica também refletem radiação solar, que por isso chega em menor intensidade à superfície do planeta, baixando a temperatura. Já no caso dos gases do tipo estufa, a radiação solar passa por eles sem problemas, porque os gases não são partículas como a poeira, e eles absorvem a radiação térmica. A radiação térmica é radiação do calor, que a Terra libera, devolve para a atmosfera e de lá para o espaço. Ela recebe a energia solar na forma de radiação de ondas curtas, os raios ultravioleta, e a manda de volta para o espaço na forma de irradiação de ondas longas, a irradiação infravermelha. Os gases do tipo estufa funcionam como um cobertor, impedindo a saída total da radiação térmica, e por isso a superfície aquece, o que é condição para a vida no planeta. Se toda a energia da superfície da Terra fosse irradiada para o espaço, não haveria calor suficiente para manter a vida como a que conhecemos no planeta. O carbono é um gás natural, que tem esse papel crucial no clima; o problema é a concentração excessiva desse gás na atmosfera, que faz a Terra esquentar demais, como vem ocorrendo atualmente. 

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