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sábado, 7 de maio de 2011


POLUIÇÃO

Mar plastificado

No ano passado, viajei com cientistas, a bordo do veleiro Sea Dragon, para acompanhar suas pesquisas sobre o lixo plástico acumulado no Oceano Atlântico. Acompanhe a experiência e entenda, também, a influência das correntes oceânicas e da temperatura sobre a trajetória desses resíduos

*Esta reportagem é da edição de abril da revista National Geographic, mas foi publicada aqui, no site do Planeta Sustentável, no dia 21/03/2011
Uma semana a bordo. Nenhum continente ou ilha fica a menos de mil quilômetros do ponto em que estamos agora. No meio do Atlântico Sul, a tripulação do veleiro Sea Dragon avalia que o oceano parece limpo. Mas a miragem se desmancha nas mãos do cientista americano Marcus Eriksen, do projeto 5 Gyres: após deslizar um coletor por uma hora na superfície da água, ele exibe uma coleção de fragmentos de plástico.

A VIAGEM DO LIXO 
Plásticos, náilon, isopor: todo o lixo capaz de flutuar é um potencial viajante e colecionador de poluentes. Ao ser levado pelas águas – da chuva, dos rios ou do mar –, logo desaparece de vista. Porém, permanece no ambiente por longo tempo. Caixas e vasilhames se quebram, cordas emaranham, sacolinhas se rompem – e todos os pedacinhos flutuantes prosseguem sua jornada. Por onde passam, deterioram a paisagem, contaminam as águas, causam impactos sobre a fauna e afetam a qualidade de vida.

VEJA QUADRO: A viagem do lixo

Os mares do mundo foram invadidos por uma praga quase invisível, o lixo plástico, em boa parte arrastado das cidades pelo curso dos rios Os resíduos não chegam a formar ilhas flutuantes, mas uma fina camada de fragmentos está presente em todo o percurso da expedição - 3,5 mil quilômetros entre o Rio de Janeiro e a ilha de Ascensão, uma possessão britânica.


Nem uma vez recolhemos o coletor sem plástico. Em viagens pelos maiores giros oceânicos do mundo, o 5 Gyres obteve os mesmos resultados. O que varia é a densidade de fragmentos. O lixo é mais nocivo do que aparenta. Enquanto viaja, o plástico entra em contato com os poluentes orgânicos persistentes (POPs), uma categoria de contaminantes de longa duração no ambiente - caso do pesticida DDT e das dioxinas. "Um fragmento de plástico circulando há alguns anos no mar chega a ter uma concentração de POPs 1 milhão de vezes maior que a água a seu redor", diz Eriksen.

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Os giros oceânicos: a rotação da Terra e as diferenças de temperatura nos oceanos geram um movimento circular contínuo das correntes marinhas. Assim, como se estivesse em um ralo, o lixo plástico flutua em círculos cada vez menores em torno do centro do giro. Campeão em volume, o lixo dos Estados Unidos divide o Atlântico Norte com os resíduos da Europa e o Pacífico Norte com os da Ásia
Isso acontece porque esse lixo e os poluentes têm a mesma origem - o petróleo - e possuem afinidade química. Assim, os organoclorados dispersos na água aderem ao plástico "viajante". Pobre do animal que engolir a mistura indigesta: não conseguirá metabolizar o plástico e sofrerá os efeitos da contaminação. Vazamentos e naufrágios são fontes de lixo e POPs, mas apenas de uma ínfima parte. "A grande maioria dos resíduos sai de cidades e lixões em terra. São despejados diretamente nos rios ou carregados pelas enxurradas até terminar no mar", conta Eriksen.

Acompanhe nossa jornada pelo Mar de Lixo, através do mapa

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